Monte a sua matéria: Mike Mignola e o fenômeno Hellboy #171

Pois é, e lembrando mais uma vez, que todos os temas são livres. O e-mail de contato: Jeff.gothic@gmail.com! A todos, uma excelente leitura!

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Mike Mignola, A Mão da Perdição e um Papo sobre o Inferno

Por: Vinicius Salfer

Em 1960, na Califórnia, mais precisamente em Berkeley, nascia o queridão Michael Joseph Mignola, que mais tarde evoluiria para o aclamado e premiado Mike Mignola. Cerca de 23 anos após Mignola decidir aparecer por aqui no mundo, num período onde aos poucos fora conservando e desenvolvendo um grande fascínio por monstros, fantasmas e essas coisas do demo, a Marvel decidiu contratá-lo como um péssimo, de acordo com o próprio, arte-finalista, ou seja, o cara que pintava no lado de dentro das linhas.

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Mais tarde virou artista para algumas edições do agora famoso Rocket Raccon, The Hulk e outros. Foi nesse período, ao longo dos anos 80, que ele começou a definir o seu estilo único. Linhas finas, formas desengonçadas e muitos tons escuros eram a sua assinatura. Já nos anos 90, após começar a ganhar mais fama, trabalhar em projetos maiores e mais comerciais para Marvel, até pela DC, ora como desenhista, ora como argumentista, Mignola juntou a sua trouxinha e foi para a Dark Horse.

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Foi nos anos 90, quando já estava na Dark Horse, que um belo dia nosso amigo Mignola acordou e pensou: “Hey, e se eu criar um macaco vermelho que na verdade é um demônio que tem uma mão de pedra, que foi trazido pelos nazistas e é contratado para dar um belo pau em outros demônios e monstros?”.

Foi disso e de uma grande vontade de desenhar nazistas, monstros e tudo de mais sombrio que havia nos folclores pelo mundão a fora que foi parido a maior contribuição de Mignola para a posterioridade: O Hellboy. Agora você, caro senhor ou singela senhora, deve estar se perguntando: “Ok, o que tem de tão especial num macaco vermelho que na verdade é um demônio que tem uma mão de pedra, que foi trazido pelos nazistas e é contratado para dar um belo pau em outros demônios e monstros?”.

E a resposta para isso se resumi num belo e fonético “Tudo”. As histórias do Hellboy, roteirizadas e boa parte desenhadas por Mignola, são recheadas de esoterismos de todas as partes do mundo, compiladas naquelas linhas finas, naquelas formas desengonçadas e naqueles tons escuros tão característicos de Mignola. Não espere encontrar grandes filosofias, respostas para o sentido da vida, resoluções que escaparam dos dedos dos maiores existencialistas nos balões de diálogos de Hellboy.

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Não. A narrativa de Mignola é rápida, não se atém ao que não convém ao belo e velho “Curto e Grosso”, embora às vezes da a entender que ele dá um leve deslize disso. Porém, esse tipo de narrativa deixa a história mais fluída, às vezes cuspida demais, mas sempre deixando aquele gostinho de curiosidade pelo o que vem no próximo número. O mais interessante dessa grande e premiada obra é o como Mignola consegue juntar tantas culturas, tantos tipos de personalidades, tanto históricas, quanto protagonistas de suas próprias lendas, à sombria história de Hellboy.

Em um breve resumo: Hellboy conta a história de um demônio que foi trazido na segunda guerra mundial pelos nazistas, mas acabou sendo recuperado pelos Aliados logo em seguida. Mesmo sendo um ser puxado do colo do próprio chifrudo, ele foi criado pelo Professor Trevor Bruttenholm, que lhe ensinou a lutar pelo bem. Hellboy vira uma espécie de detetive para uma organização governamental, cuidando de assuntos sobrenaturais e ao mesmo tempo descobrindo os segredos por trás de sua enigmática mão de pedra e de sua própria razão de existir.

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Se nessa altura do texto você está sentido uma pequena necessidade de começar a conhecer mais afundo essa grande história, a seguir uma lista em ordem cronológica da história principal de Hellboy que talvez, veja bem, foi dito “talvez”, talvez não, seja o certo para você que quer se ater simplesmente à história principal. Se não, leia todas. Pode haver algo que alguém considere Spoiler, mas são apenas sinopses de cada história, nada que estrague a leitura e as surpresas.

1 - Sementes da Destruição

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É aqui que tudo começa. Nessa edição ficamos sabendo como o vermelhão, que ainda é o vermelhinho, é trazido pelo titio Rasputin que pretendia trazer a bela vista do inferno para a terra. Aqui conhecemos também os parceiros de Hellboy, Liz e Abe, um peixe-gente ambulante. Aqui já vemos, como em todas as edições, Hellboy caindo na porrada com um monte de monstros e sabendo um pouco mais sobre a sua vinda para a Terra através do fantasma Stalker do Rasputin.

2 - O Despertar do Demônio

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Rasputin tenta juntar a sua galera para trazer o caos à Terra. Hellboy e companhia vão até a Romênia investigar a localização de um grupo nazista, vulgo galera do Rasputin. Aqui é apresentado um pouco mais da origem das ambições de Rasputin e uma das antagonistas principais da série, a bruxa do folclore russo, a Baba Yaga. Alguns detalhes a mais sobre a verdadeira função de Hellboy também são revelados. Um homúnculo também é achado e Liz  o traz de volta à vida botando o dedinho em seu buraco, agora, para saber qual buraco é esse, só lendo. (Tum, Tum, ts)

3 - O Caixão Acorrentado e Outras

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Nessa edição, além da história principal, várias histórias de pequenas missões, não necessariamente essenciais para a história principal, mas essenciais para o divertimento e conhecimento do mundo de Hellboy, são contadas. Algumas histórias como “O Cadáver” e “A Baba Yaga” tem a sua importância futuramente, mas nada que o desconhecimento delas prejudique um entendimento global de tudo. O importante aqui é “O caixão Acorrentado”, onde ficamos descobrindo um pouco mais sobre o papai e a mamãe do Hellboy. Outra história interessante também é “O Gigante Infernal”, uma espécie de continuação da história do Homúnculo apresentado em “O Despertar do Demônio”.

4 - A Mão Direita da Perdição

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Acompanhando o estilo de “O Caixão Acorrentado e Outras”, esse volume conta algumas histórias paralelas não tão essenciais para a trama principal, mas igualmente interessantes. Duas histórias são importantes aqui. Primeiro, “A Mão Direita da Perdição”, onde Hellboy ganha novas informações e tem devaneios sobre a sua mão de pedra. Segundo, “A Caixa do Mal”, onde outro demônio tenta possuir os poderes e o fardo de Hellboy.

5 – Chamados Das Trevas

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Uma das melhores histórias de Hellboy. Aqui todas as bruxas do mundo são chamadas para uma grande reunião. Aqui Baba Yaga monta um plano para se vingar de vez de Hellboy.

6 – Paragens Exóticas

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Uma história, precedente dessa, que foi deixada para trás foi “O Verme Vencedor”, que não é muito importante, apenas serve como uma desculpa para o desligamento de Hellboy da organização. Após esse desligamento, ele vai direto para o berço da humanidade, África, onde está ambientada a narrativa de “Paragens Exóticas”.  Aqui Hellboy é arrastado para as profundezas do mar por uma bruxa peixe, conversa com marinheiros mortos e acaba matando um pouquinho mais as interrogações que o cercam acerca de seu ser.

7 – A Caçada Selvagem

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Essa é uma grande história de Hellboy, uma das melhores sem dúvida. Hellboy é chamado para participar de uma antiga tradição de caça. Nessa história ficamos conhecendo a história da mãe de Hellboy e o que diabos ele tem a ver com o Rei Arthur. É aqui também que acontece o surgimento de uma das melhores antagonistas da séria, A Rainha de Sangue, Nimue.

8 – A Tempestade

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Em “A Tempestade”, os eventos acontecidos em “A Caçada Selvagem”, tem a sua continuação direta. É aqui que Hellboy decide acertar as contas de vez com Baba Yaga em busca de auxílio contra Nimue. É aqui que começa o apocalipse com a vinda dos sete que são um.

9 – A Fúria

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O Apocalipse está começando, Hellboy tem que decidir qual vai ser o seu destino, é aqui que Hellboy tem que chutar mais algumas bundas demoníacas. O dragão está surgindo, é a guerra. É aqui que nosso herói, com o mundo cheio de feridas da batalha, volta pra casa.

10 – No Inferno

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Essa é a última edição traduzida de Hellboy até então. Aqui Hellboy vem dar um rolê como o título já diz, no quintal do capiroto. É muito interessante pela cara que Mignola deu ao inferno. Em “No Inferno”, encontramos paisagens bizarras e criaturas da mesma linha. Aqui são reveladas muitas coisas importantes sobre o seu ser, sua mãe, o pai de Hellboy e sua linda família de chifrudos malditos.

Sobre Os Filmes

Os filmes de Guillermo Del Toro baseadas nos quadrinhos de Mignola, são uma releitura interessante do personagem, veja bem, eu disse releitura. Enquanto nos filmes Hellboy é um cara debochado, caricato, muito apegado à certas coisas, nos quadrinhos, ele é mais sombrio, o fato de o que ele é lhe incomoda muito, ele não é tão apegado às pessoas quanto mostrado nos filmes. Enfim, quase duas obras diferentes sobre o mesmo diabo, ou melhor, duas grandes histórias diferentes sobre o mesmo chifrudo.