Gerald Blanchard: O Gênio do crime

Nós estamos acostumados a vermos ladrões pouco sutis agindo em casos onde armas são usadas para roubar pequenas quantidades de dinheiro, mas existe um outro ramo de ladrões, muito mais geniais, capazes de roubos que você nem imagina.

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O grande roubo – Parte 1

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Era uma noite de junho de 1998. No céu, um homem sobrevoava a cidade de Viena, indo em direção ao Castelo Schloss Schönbrunn. A visibilidade era boa e as luzes do local serviam para criar um alvo na escuridão. Na cabine, o piloto seguia o plano de voo rigidamente estabelecido.

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Poucos minutos depois, o sinal de salto foi ligado. O avião seguiu seu rumo, porém um dos ocupantes tinha pulado no vazio. Segundos depois, um paraquedas escuro se abriu sobre a noite, sem ser notado por ninguém, e, instantaneamente, uma luta com os ventos se iniciou. O pouso precisava ser perfeito. Um erro de poucos metros poderia ser fatal. Com toda a perícia de anos de prática, Gerald caiu sobre o telhado do castelo e escorregou até parar na ponta, pendurado pelos braços. Após o pavor inicial, ele retomou a concentração e voltou a seguir o plano que estava guardado, em todos os detalhes, dentro de sua cabeça.

Nos poucos minutos seguintes, Gerald entraria para a história em um dos mais bem-feitos e incríveis roubos de todos os tempos…

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O começo

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Nascido em Winnipeg, no Canadá, Gerald iniciou sua vida de crimes aos seis anos de idade. Seu primeiro furto foi um caixa de leite em uma venda perto de casa. O que seria apenas uma aventura de criança, transformou-se em um vício. Segundo as palavras dele: “Eu era viciado.”

Já na escola, Gerald se interessou pelo funcionamento de dispositivos mecânicos e eletrônicos, estudando seu funcionamento e tentando entender cada detalhe. Em poucos meses, ele era capaz de desabilitar complexos sistemas de segurança e sua vida de crime prosperou. Em 1988, com apenas 16 anos, Gerald comprou uma casa no valor de 100 mil dólares. Todo esse dinheiro provinha dos golpes que ele dava e lugares que roubava.

Em 1993, ele acabou sendo preso pelos policiais locais. Em um momento de distração, quando os interrogadores saíram da sala, Gerald conseguiu se esgueirar para a sala seguinte, onde, devido a uma pequena falha no forro, foi capaz de se esconder. Poucos segundos depois, a delegacia virou uma confusão, todos achando que o ladrão havia fugido pela escada de incêndio. Ouvindo aquilo, Gerald ficou no forro por duas horas, até que as buscas por ele cessaram. Assim que teve oportunidade, ele desceu, roubou um uniforme de polícia e saiu pela porta da frente da delegacia.

A fase dos bancos

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Todo o ladrão talentoso deseja, além da adrenalina, o dinheiro, por isso Gerald começou a roubar bancos. Em 2001, durante um passeio pela cidade de Alberta, ele notou que um prédio, que viraria um banco, estava sedo construído. A partir do dia seguinte, usando os mais variados disfarces, ele começou a frequentar a construção. Algumas vezes, mais ao final da obra, ele passava as noites entre as paredes não terminadas. Seu plano ficou pronto muito antes do fim da obra.

Durante a fase de planejamento desse assalto, Gerald conheceu sua parceira de crimes: Angela James, uma bela mulher que, assim como ele, era apaixonada pela adrenalina do roubo. Em poucos meses, os dois se tornaram parceiros inseparáveis, mas nunca se relacionaram.

O primeiro roubo da dupla, apesar de todo o planejamento, não rendeu muito dinheiro, pois haviam poucos caixas eletrônicos no lugar, porém a carreira do crime nos anos seguintes foi incrível.

No início de 2004, Gerald iniciou seu planejamento para roubar o Banco Imperial Canadense. Durante muitas noites, ele invadiu o lugar pelo sistema de ar-condicionado, instalando uma câmera e um monitor de bebê atrás da parede onde os caixas eletrônicos ficavam.

No dia do roubo, ele conhecia o banco e todos seus sistemas de segurança como ninguém. A porta foi facilmente aberta em alguns segundos. Os alarmes iam sendo desativados por ele a cada passo. Em menos de um minuto, Gerald estava na sala dos caixas. Em 90 segundos ele retirou todo o dinheiro dos caixas. Poucos minutos após sua entrada, ele saiu do local, levando mais de meio milhão de dólares.

Quando a polícia chegou ao banco, todas as portas estavam fechadas e não havia sinal de problemas. Naquele momento, todos pensaram se tratar de um falso alarme. Na manhã seguinte, quando o banco abriu, o caos surgiu. Seis dos sete caixas eletrônicos haviam sido roubado, sem que nenhuma nota ficasse para trás. As gravações de segurança também já eram (alguém tinha roubados os HD's). Enquanto a polícia buscava digitais nos caixas ou nas portas, Gerald estava sentado em casa, ouvindo tudo que se passava dentro da sala dos caixas, pois a babá eletrônica permitia que ele espionasse as investigações.

Essa vantagem estratégica fez com que ele fosse capaz de mudar os rumos da investigação. Sabendo o nome dos envolvidos e também quem eram os gerentes do banco, o ladrão ligava dando pistas erradas sobre quem havia feito o assalto. Para a polícia ele disse que foram os homens da manutenção. Já o gerente do banco ficou sabendo que era culpa do empreiteiro da obra… O mais incrível era que todos acreditavam nele, pois um dos caixas eletrônicos tinha ficado intacto e essa informação não era pública. Gerald, de antemão, havia previsto que, se deixasse um caixa sem ser roubado e usasse essa informação para apoiar suas ligações, seria levado a sério e foi exatamente isso que aconteceu.

O caso do Banco Imperial Canadense parecia mais um crime perfeito, porém o acaso fez tudo desmoronar. Todas as noites, quando iam fazer alguma observação no lugar do roubo, Angela e Gerald usavam o estacionamento de um mercado próximo para deixar o furgão. Em uma das noites, o guarda local, que odiava as pessoas que usavam o estacionamento de noite, anotou a placa do veículo. O furgão era de uma empresa de aluguel e tinha sido alugado por Gerald Daniel Blanchard.

Investigação

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A equipe da polícia local montou um time para pegar Gerald, mas ele fugiu antes que pudessem localizá-lo. Durante dois anos, ele ficou longe, apenas aproveitando todos os milhões que havia ganho em sua carreira de crimes.

O caso esfriou e nada estava sendo feito sobre o roubo do banco, mas um investigador, chamado Mitch McCormick, começou a trabalhar em alguns roubos não resolvidos, todos eles feitos por profissionais capazes de burlar os mais complexos sistemas, sem deixar pistas e evidências. Com algumas semanas de investigação, o policial encontrou um padrão. Todos os bancos eram roubados da mesma maneira: Alguém invadia o lugar de madrugada, levava todo o dinheiro dos caixas eletrônicos e os alarmes, sensores de movimento e câmeras eram desativados. Dezenas de crimes similares foram encontrados em todos o país, todos sem solução e todos com a mesma assinatura que levava a Gerald.

Telefones foram grampeados imediatamente e bastaram poucos dias para que o ego do criminoso gênio ajudasse a polícia. Gerald, apesar dos cuidados que tinha na hora do roubo, falava abertamente de seus crimes e planejamentos pelo telefone.

Ouvindo as linhas, a polícia descobriu detalhes de crimes antigos e também uma ligação de Gerald com o crime organizado na Inglaterra e no Cairo. Inclusive, durante a investigação, ele viajou para esses países, onde conduziu uma operação de roubo em caixas eletrônicos usando cartões clonados. O mesmo golpe iria ser aplicado no Canadá, mas após sua volta dessa missão internacional de roubos, Gerald foi pego pela SWAT.

Gerald alegou que poderia ter fugido, pois a polícia local não era muito boa em manter criminosos. Mesmo com essa oportunidade de liberdade, ele assumiu que alguém precisava colocar ordem em sua vida de crimes e que estava na hora de parar. Após muita negociação, ele resolveu contar tudo e confessar seus crimes. Em troca, ganharia uma redução enorme de pena e poderia estar nas ruas em poucos anos.

Das 42 acusações iniciais (que iam desde roubo até posse de equipamentos ilegais de impressão de cartões), Gerald assumiu apenas 16 e recebeu 8 anos, saindo da cadeia em dois. Ele teve que vender tudo que tinha para ressarcir o governo.

Durante os depoimentos, ele nunca entregou nenhum dos seus companheiros e assumiu inteira responsabilidade por tudo. Seus relatos mostraram dezenas de falhas na segurança de bancos, delegacias e diversas instituições. Desde 2010, Gerald, que já saiu da cadeia, presta consultoria de segurança a bancos e ganha mais dinheiro do que conseguia com seus roubos incríveis.

O grande roubo – Parte 2

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Poucos dias antes de saltar de paraquedas sobre o Castelo, Gerald visitou o local, onde viu uma das coisas mais belas de sua vida: A Estrela de Sisi, uma joia da coroa austríaca, feita com uma pérola perfeita rodeada por 27 diamantes.

Seu cérebro de gênio do crime começou a trabalhar freneticamente. Enquanto a guia de turismo contava a história da joia, Gerald catalogava mentalmente a posição dos detectores de movimento, alarmes e tentava entender o funcionamento do sistema de proteção da joia, que contava com um vidro a prova de balas, um sensor de peso e câmeras.

Enquanto todos iam para sala seguinte, Gerald se aproximou discretamente da câmera que havia em cima da joia e conseguiu desconectá-la sem ninguém notar. Como não houve movimento para o conserto nos momentos seguintes, ele soube que ela não era monitorada.

Em seguida, ele usou uma chave para abrir os parafusos que prendiam o vidro em volta da joia. Por último, sem que ninguém visse, ele se aproximou das janelas da sala e abriu os trincos.

Como quem não quer nada, Gerald deu uma volta pelo museu/castelo e comprou uma réplica da joia que pretendia roubar na noite seguinte. Bastou apenas uma volta pelo Castelo para que um mapa se formasse em sua mente, onde ele marcou a posição das câmeras, guardas e tudo que pudesse ajudá-lo.

Após a aterrissagem complicada, Gerald se esgueirou pelo teto, até a janela que ele havia deixado destrancada. Para sorte, ela ainda estava. Sua entrada foi lenta e cautelosa. No dia em que iniciou seus planos, ele notou que os sensores de movimento da sala não eram dos melhores e permitiam que alguém se movesse, desde que fosse bem lentamente.

Com toda a paciência do mundo, Gerald começou a mover o vidro protetor da peça. Mas antes que ele pudesse tirá-lo, usou uma faca para manter no lugar os sensores que checavam a presença do vidro. Agora sem a proteção, bastava pegar a joia. Com a mãos firmes e movimentos ágeis, Gerald trocou a original pela cópia, antes que o sensor de peso pudesse disparar o alarme.

Usando a mesma corda que lhe levará do telhado a janela, Gerald chegou ao jardim e sumiu na noite. Durante duas semanas, todos os turistas, que iam ao Castelo, admiravam a beleza de uma cópia mal feita e apenas após um exame minucioso que o roubo foi descoberto. A essa altura, Gerald estava longe de Europa. A peça ficou perdida até que o próprio ladrão resolveu confessar esse crime quando foi preso, devolvendo ela aos seus donos.